top of page

Amplitude

Do preto ao branco,

Há imensidão e abismos,

Tantas cores que nem sei –

Verde, vermelha, amarela.

Há tanto e mais:

Limão, carmesim, mostarda,

Entre o sim e o não,

Que avançam, ao infinito,

Como talvezes, por talvegues,

Entretantos, entretempos,

Num sem-número de lacunas,

Incertezas mais que sabedorias,

Licenciadas pela paz

Com ordem de serviço

A tristezas e revoltas,

Inversos e multiversos,

Onde tudo é

Agradavelmente suprível,

Onde há paixões e

Questões a esmo,

Em ocultos, porque a vida

Não incorre em exatidões.

Menos muitas vezes é mais,

E muito, às vezes, mal.

A própria força gravitacional,

Se pensarmos,

Viola a manga podre do galho,

Esquece a queda reta

Sob a curva do espaço-tempo.

Qual o quê!

Se o ar da manhã é mistério

Aos olhos que não margeiam

A natureza arrepiada...

Se mesmo seu dono não se atém

Ao toque fresco e suave

No corpo: aos olhos, à boca,

Sobre cuja base vibrátil

Pode flutuar em lembranças,

Elevar-se em nostalgias

E dançar doidamente,

Amordaçado, inobstante,

Na pele que sua e aquece,

Rompe espaços,

Tateia labirinto, conexões,

Para abraçar antagonismos,

Por sinal, assim integrando-se,

Como ocorre à saudade,

Engastada a contrassensos,

Para primores, langores

E sabiás sapientíssimos,

Absoluta sobre

Bens e reveses,

Sobrevivente na dúvida

Da nossa própria concretude.

Existimos? Já nem sabemos.

Há muito quem questione

A nossa realidade.

E jaza na incoerência

De buscar, em vão,

Outros desvãos.

Hei eu de contrapor?

Não posso, porque tenho

Alimentado outros devaneios

Para manter nítida a abstração

Que me solicita, antes mesmo da razão,

A intuição própria de não desistir.

Juliano Ferro

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page